terça-feira, 2 de novembro de 2010

Paris vs NYC

Mesmo sem nunca ter ido a Paris, tenho uma quase certeza de que a cidade-luz vai disputar de igual pra igual com Nova York - pela qual tenho uma paixão que não escondo de ninguém - o posto de minha favorita no mundo. Às vezes me acho um pouco um misto das duas coisas. As duas são cosmopolitas, urbanas, movimentadas... mas também diferem em aspectos marcantes. Por incrível que pareça, cof cof, consigo me identificar com ambos.

Quando penso em Nova York, me vem o cheiro de café do Starbucks, dos diners, do açúcar da Magnolia Bakery; o vento de outono no rosto, as luzes histriônicas da Tiring Square, uma profusão de cores intercaladas com o cinza bruto de Manhattan.

Minhas impressões de Paris são distantes: de filmes, fotos, músicas e aromas que chegam até o lado de cá. Nada disso é suficiente pra compor a percepção que só uma visita à cidade vai me proporcionar. Nunca um lugar é do jeito que a gente imagina. Mesmo sabendo disso tudo, é impossível não imaginar Paris como um lugar romântico, antigo, clássico... delicado.

É isso: NYC é bruta, high tech, moderna, urgente. Paris é iluminada, classuda, romântica, eterna. Esse blá-blá-blá todo é porque preciso dividir aqui o que encontrei no blog Paris vs NYC, da francesa Vahram Muratyan, que ama Nova York: imagens geniais usando o binômio Paris-New York. Melhor conferir.



Très difficile to choose



'Stand clear of the closing doors, please'. Ou s'il vous plaît?



C'est genial!











Esse é demais!



A melhor: young, toujours!



segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Homesick

Pela primeira vez em três semanas, passei um dia inteiro em casa. Uma sucessão de viagens, plantões e afins me afastaram do meu querido lar, e pude constatar que poucas coisas podem me perturbar mais do que a distância dele. Amo viajar, não me entendam mal. E também não sou daquelas que ficam satisfeitas com a monotonia de não precisar ir à rua. Gosto de rotina e ordem, mas quebrá-las - de vez em sempre - é essencial.

Passei o dia entre minhas coisas, finalizando a matéria dessa semana, organizando o monte de papéis que só faziam se acumular e a pilha de revistas, abandonadas na escrivaninha, que ainda pretendo terminar de ler. Que falta eu senti de ver as coisas em ordem! Aflição toda vez que chegava ao meu quarto, destruída, e só tinha forças para pegar uma roupa, tomar um banho, conectar o carregador ao celular e ajustar o despertador. Arrumar meu canto tornou-se um luxo. E só pessoas que prezam pela organização (acho maníaca uma palavra... hm, forte) sabem o quanto isso é doloroso. Virei turista do meu próprio aposento.

O pico de saudade veio semana passada, quando estava em São Paulo, em meio à cobertura da Futurecom - meu primeiro grande evento desde que entrei no jornal, que merece um post à parte. Depois de perambular durante horas e horas em uma feira enorme, com sei lá quantas paradas em dezenas de estandes divididos em 3 pavilhões do Transamerica Expo Center, chegar ao quarto do hotel deveria proporcionar a sensação de estar em casa. Normalmente, é assim que acontece comigo. Cadê? Tudo o que senti foi uma inquietude, uma ansiedade, uma vontade enorme de entrar no 1º avião com o destino ao Rio - pelo amor de Deus, ' à felicidade' é brega demais.

Senti uma ponta de remorso por estar em SP, na capital econômica, cultural, gastronômica & etc do país e conseguir querer estar em casa. Nas CNTP, o normal seria eu não querer ir embora - como eu sempre me imagino quando penso em Sampa. Olhando agora, passada a crise, vejo que o cansaço e o acúmulo de noites e noites longe de casa explicam meu homesick moment. E me sinto melhor.

Pastas organizadas, bagunça em ordem, sopinha da mamãe e energias renovadas, tô pronta pra outra ponte aérea. Mas só me chamem quando eu acordar.


sábado, 9 de outubro de 2010

Tropa 2: Faca na caveira

Como grande parte da massa que desde ontem se concentra nos cinemas brasileiros, eu também estava louca para assistir Tropa de Elite 2. E qual não foi a minha surpresa quando meu querido editor perguntou se eu queria 2 convites cedidos pelos patrocinadores do filme para assistir à pré-estreia, na quinta-feira? Se eu queria? É pra responder mesmo? :)

Lá fomos nós, o boyfriend e eu, felizes, ter nossos celulares lacrados na entrada do cinema - sim, a estratégia neurótica de segurança de José Padilha contra a pirataria chegou a esse ponto. Mas quem se importa, né? Confisquem! Tudo pelo amor à arte e pela defesa dos direitos autorais.

O filme

Minhas expectativas, baseadas na primeira versão, - e também no fato de que os produtores não se contentariam com algo inferior a ela - eram as maiores possíveis. E foram absolutamente correspondidas. Tropa 2 é muito bom! Tem tudo o que fez do primeiro um grande longa, com um adicional: potencializa seu caráter de crítica social ao trazer a questão das milícias como tema central - algo que já sabíamos desde que começaram a pipocar informações sobre o filme na imprensa, mas que fez toda a diferença.

O roteiro de Padilha e Bráulio Mantovani é ótimo. Mais complexo que o anterior, articula bem os elementos que contam a história do agora Coronel Nascimento, 10 anos mais velho. E mantém as doses de ironias e bordões que, em meio a tanto sangue, tiro e conflito, conseguiram dar a um filme pesado alguns momentos leves. As cenas aéreas são muito bem feitas, as ações todas muito convincentes. Wagner Moura - nunca me cansarei de falar - incrível, p#$% ator. Neste segundo filme, Nascimento aparece mais humano, mais falível, menos herói. Gostei. E Seu Jorge? Gente, que máximo ver Seu Jorge tão bem, tão dentro do papel. hahaha Culpa de Fátima Toledo?

Tocando na ferida

A história que Tropa 2 se propõe a contar é, mais uma vez, a da violência, da guerra urbana na cidade do Rio, da força bruta do Bope e dos policiais corruptos. Mas a abordagem, ainda que na ficção, da ligação do Estado com a máfia miliciana foi o elemento novo, a coisinha a mais para o espectador pensar quando sai do cinema. Não queria entrar nesse blá blá blá de choque de realidade porque os arrastões, os assaltos e o crime organizado estão aí o tempo todo pra nos lembrar do que nos cerca. Mas, na minha esperança romântica e utópica, mostrar como os políticos* participam desse cenário imundo e de insegurança generalizada em que vivemos talvez faça o público refletir que, em algum momento, também somos coniventes com o sistema. Votamos, colocamos os bandidos de terno todos lá. Peraí, a eleição não foi semana passada? Bad timing. #fail

Parênteses. A pergunta que todo ser pensante provavelmente vai fazer, espontaneamente, eu também fiz: por que RAIOS esse filme não estreou antes das eleições? 'Leis de incentivo a cultura e apoio da Prefeitura do Rio devem explicar', pensei. Estrear exatamente 3 anos após o 1º, em 8 de outubro, foi a desculpa que encontraram pra não dizerem que a arte no Brasil, para ter recursos, acaba precisando se submeter ao poder público antes de falar mal dele. Fecha parênteses.

A situação do Rio de Janeiro dá a Tropa de Elite 2 o luxo de dispensar a tecnologia 3D. Ele tem a seu favor uma bela ambientação que acontece antes do público entrar no cinema e continua quando as pessoas voltam pra casa. Sim, porque, no momento em que eu deixava o shopping onde assisti o filme, bandidos roubavam um carro 2 ruas atrás. E no bairro vizinho outro bando de criminosos invadia um prédio. Tá bom pra você?



* Dá raiva ouvir políticos dizerem no horário eleitoral que "o Rio hoje vive em paz". Paz? Defina, por favor. Não é da mesma coisa que estamos falando.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Persona

Felizes são os escritores. Os ficcionistas, eu quero dizer. Sim, porque eles podem fazer o que quiserem e seus personagens jamais irão reclamar. É sobre isso que venho pensando nos últimos dias: como o indivíduo retratado em um texto pode intervir no trabalho de quem escreve. No caso, o jornalista.

O repórter faz perguntas, o interlocutor responde como lhe convém. Seleciona o que vai dizer de acordo com o que interessa a ele que seja publicado. Quem escreve tem o compromisso de ser fiel àquelas respostas, ou ao menos às ideias gerais nelas contidas. Texto publicado: que atire a primeira pedra o jornalista que nunca teve uma personagem que se rebelou quando viu o produto final.

Por mais cauteloso e isento que tente ser, o criador corre o risco de desagradar a criatura (que não foi criada por ele, diga-se de passagem). Fico imaginando como deve ser difícil o trabalho de um biógrafo, principalmente de obras autorizadas, quando na maioria das vezes toda sua produção está sujeita à aprovação do seu "objeto" de estudo. Não bastasse o gigantesco processo de pesquisa, ele tem diante de si uma vida a retratar que é, ao mesmo tempo, um filtro. Uma peneira que pode pegar justamente os caroços que enriquecem uma história.

E os dramaturgos? Estes sim vivem situação curiosa: criam a personagem da maneira que entendem ser melhor para a trama. Aí vem o ator, todo metido à besta, e transforma o X em Y. Às vezes, o resultado final é melhor que a ideia inicial. Em outras, é catastrófico. Problemas no processo podem até levar a consequências "mais graves". Pra facilitar, o criador mata a criatura. Ou inventa uma viagem, um final feliz antecipado e, de quebra, se livra do intérprete problemático. E o jornalista? Faz o quê?

Bons jornalistas, tenho aprendido, são aqueles que não se permitem pautar pelo entrevistado. Conseguem extrair não o que ele deseja dizer, mas o que realmente importa para aquela matéria. O que motivou a escolha daquela pauta, em meio a tantas outras. Fiel às respostas, ciente do que escreve - e, nunca é demais, seguro graças a belas provas concretas. O gravador pode ser o melhor amigo.

Construir personagens é uma delícia. Imaginar como seria alguém, buscar sentir o que esse alguém sentiria, determinar e executar suas ações... (Stanislavski explica melhor que eu). Mas tão desafiante quanto é trazer quem já existe para o papel.


***

Uma pessoa que detesta coisas desatualizadas e "abandona" seu blog à própria sorte durante um mês merece o quê?
R: Sentir-se mal e voltar ao bloco de notas quando constata que estava morrendo de saudades de escrever aqui. E enfiar na cabeça que falta de tempo não pode virar desculpa para não postar. Dealt!*

*Que drama, mas ok. Tem a ver com nossos temas aqui.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Setembro

Amo Setembro. E desde que cheguei a tal conclusão a vida só me faz acumular mais motivos pra gostar tanto desse mês. Esse ano principalmente, depois de um agosto um tanto esquisito e cheio de sustos, o mês 9 veio pra mim como uma lufada de brisa fresca, um alívio providencial depois de tanta apreensão.

Minha simpatia por setembro tem várias razões: é setembro (né, Polly?), e embora o 7 corresponda a julho (mês em que nasci), é em setembro que o meu número favorito vem redondinho, escrito por extenso; setembro é o mês da primavera, mês em que o frio, em boa hora, vai dando lugar a dias floridos, ensolarados, solares. Apesar de até agora ele estar se alternando com um inverno teimoso que insiste em ficar, o calor de setembro ainda é agradável. No hemisfério sul e no norte também.

Em 2009, setembro passou também a me remeter a realização. A novas experiências, novas oportunidades, novas etapas. Há exatamente um ano, eu estava no ar, em sono leve, ainda atordoada, a caminho de algo cujo tamanho eu nem mesmo conseguia dimensionar (foram exatos vinte dias entre a notícia e o embarque). É mesmo um mês de sonhos.

Cheguei em Nova York em um dia chuvoso e cinzento de setembro, dia 11, aquele mesmo que pros americanos jamais terá algum significado além do mais triste de todos. Caos, trânsito, ruas fechadas (e US Open pra tumultuar ainda mais o negócio), frio e uma inegável melancolia ao redor. Soa egoísta mas, apesar de não estar alheia às circunstâncias, nada disso me aborreceria. Pelo menos pra mim, 11 de setembro de 2009 foi especial, diferente, a sacolejada que faltava. Cheguei. E aos poucos ficava cada vez mais nítido: "Dois meses na Big Apple todos seus. Make the most of it!"

Morar sozinha. Em outro país, na cidade que eu sempre quis. Com uma grande amiga (que por sinal compartilha da síndrome setembrina). Um trabalho, grande e trabalhoso trabalho, em outra língua, em um escritório com quatorze pessoas de diferentes partes do mundo, diferentes realidades, nacionalidades, religiões. Fim do Ramadan. Ver, com meus próprios olhos e in loco, os discursos de Lula e Obama na Assembleia Geral das Nações Unidas. Dezenas de novas caras. Novos lugares. Novos amigos. Impossível esquecer do começo, daquele fim de verão gostoso, das primeiras 2 semanas de 2 meses maravilhosos.

Sempre recriminei pessoas nostálgicas demais. Acredito que os bons momentos são o que há de melhor no passado, mas pra frente é que se anda. E, se houve algo bom ontem, nada impede de haver outros tantos agora, amanhã, depois. Mas hoje me permito ser nostálgica e dizer que, se setembro era um mês único, em 2009 ele conquistou o posto de hors concours. Deu saudade.
Segunda-feira começo uma nova etapa (olha setembro aí outra vez!). Um trabalho novo, diferente de tudo que já fiz, onde finalmente vou experimentar aquilo que está na essência da profissão de jornalista. Espero ansiosa, porém calma e feliz, principalmente por saber que os ventos de setembro sempre trazem coisas boas. Eles nunca me desapontaram.

***

* Para meu consolo, NY estará sempre lá; e Setembro tem todo ano. Vou curtir minha nostalgia vendo Sex and the City. Ah, não contei, né? No nosso 1º fim de semana, perdidas no Village, Polly e eu encontramos a Sarah Jessica Parker lá também. Cadê a surpresa? Sim, era setembro!

* Todo casal tem sua música-tema; Earth, Wind & Fire canta a nossa. September e eu.

Ba de ya - say do you remember
Ba de ya - dancing in September
Ba de ya - never was a cloudy day





terça-feira, 31 de agosto de 2010

Nós, os jornais, a web

No dia em que deu o último suspiro em seu formato original, o Jornal do Brasil de fato desapareceu das bancas. E tanta gente comentando sobre a dificuldade de encontrar a edição derradeira do JB me fez ter a curiosidade de checar com o jornaleiro da minha esquina ainda há pouco: todos os exemplares evaporaram por aqui também; todo mundo resolveu comprar a relíquia.

A partir de amanhã, o JB será o primeiro jornal do país a estar disponível apenas na internet. O fim da versão impressa do veículo que no passado foi referência no jornalismo brasileiro, de tamanhas importância e participação na história do país, é para muitos um retrocesso. Mas é também inútil se recusar a enxergar que talvez seja esse o caminho para onde o jornal impresso em geral deve seguir (o caso do JB, como sabemos, não se trata de um ato de vanguarda ou de consciência ecológica como a empresa chegou a alegar).

Em chat no portal Comunique-se, Luis Nassif afirmou hoje acreditar no fim dos jornais em papel. Segundo o jornalista, não há como concorrer com iPads, Kindles e outros gadgets leitores eletrônicos da vida. Concordo, pelo simples fato de que um dia será impossível competir com a velocidade da internet. E concordo mais ainda quando Nassif diz que "os jornais atuais não estão preparados para a interatividade da web". Além do editor, o jornalista agora tem que aprender a lidar com o leitor comentando e criticando, em tempo real, o conteúdo que lhe é oferecido. É como se a seção "cartas do leitor" tivesse ganho uma dimensão imensurável, e estivesse aí pra quem quisesse ler. Na verdade ela está, e sua carta não depende da boa vontade de alguém para ser publicada na edição do dia seguinte.

Entrei na faculdade de jornalismo quando esse processo - revolução digital, convergência de mídias, tudoaomesmotempoagora a.k.a. a era da informação - estava já em ebulição. Processo que todos tentamos, mas simplesmente não podemos precisar onde vai chegar. As teorias da comunicação como aprendemos nos primeiros períodos já não condizem com o que vemos na prática. O outrora receptor recebe, mas também emite, produz conteúdo, colabora. Os papéis desempenhados pelo comunicador estão sendo redefinidos, readaptados a realidades que estamos descobrindo junto com o resto do mundo. E posso falar? Adoro o fato de estar vivendo e vendo todas essas mudanças com meus próprios olhos.

Nasci no final da década de 80. Brinquei na rua; fiz dever de casa sem ajuda da internet; pesquisei na Barsa da minha avó e na biblioteca do colégio para trabalhos (escritos em papel almaço); escrevi diários em caderninhos; "marchei soldado" com chapéu de jornal. Mas também tive "tamagochi". No início da adolescência tive meu 1º celular pré-pago, mas lembro bem da época em que era possível e absolutamente normal viver e sair na rua sem telefone. Meus primos de 10 anos jamais saberão o que é isso. Assim como, daqui a um bom tempo, meus netos vão se admirar ao saber que naquela época em que nasci jornal era sinônimo de papel.

Em resumo, faço parte de uma geração privilegiada que pôde viver os dois mundos, o "analógico" e o digital, ainda que por tempo determinado. Aguardo ansiosa o que está por vir, o que vai continuar interferindo e definindo os rumos da profissão que escolhi, e que pretendo exercer em quaisquer que sejam as plataformas.

domingo, 15 de agosto de 2010

Let's go down deeper

Há cerca de um mês, quando Inception teve sua première nos EUA, já fiquei na expectativa pelo filme. Aclamado mundialmente – é o 3º do ranking no IMDb -, estreou semana passada aqui no Brasil e, pelos mesmos motivos que não postei no blog nos últimos dias, não consegui assistir. Ontem, finalmente, pude ver com meus próprios olhos o espetáculo de filme que Christopher Nolan concebeu. Arrebatador.

A Origem propõe que o cenário de um crime seja a mente. Tudo é criado, projetado, arquitetado para ser o lugar/circunstância ideal para a quadrilha de Don Cobb (Leonardo di Caprio) agir. Acessando a mente do sujeito através de seu sonho, eles colocam planos em prática. Dentro do sonho, adormecem e o fazem novamente. Um sonho dentro de outro sonho. Entrar no sonho? Acredite: você não vai sequer ter vontade de questionar que raios de tecnologia é utilizada para isso. Não importa. A trama nos envolve de tal maneira que tudo que senti, particularmente, foi vontade de ver e ir fundo, mais e mais fundo, acompanhando os personagens em cada "nível" de sonho a que eles se arremessavam, sem piscar.

O roteiro é de tirar o fôlego. Pode parecer idiota, mas a primeira coisa que me vem à cabeça quando vejo algo genial e ousado assim é como uma ideia (que aqui partiu da cabeça de Nolan, que assina roteiro e direção do filme) pode ser concretizada de maneira tão convincente, cheia de detalhes e bem fundamentada. A conexão entre a psicanálise, os sonhos e o cinema é algo que existe de longa data... Se o que vimos é fruto do sonho ou de uma criação consciente de Nolan, não interessa. Inception é muita informação, e te faz querer absorvê-la por completo.



Di Caprio é um bandido calculista que invade a mente das pessoas e ao mesmo tempo é atormentado por suas lembranças, por ter perdido seu grande amor e mãe (Marion Cotillard) dos dois filhos que ele precisou deixar para trás. Cotillard arrasa desde sua primeira aparição na tela, aquela cara de louca, passional, incrível. Ellen Page não lembra em nada Juno, aparece madura, crescida, segura. Já adorava, agora gosto ainda mais. Joseph Gordon-Levitt, Michael Caine, Tom Hardy... o elenco dá a forma exata para as criações brilhantes de Nolan. Saí do cinema perturbada e encantada. À parte a meia dúzia que deixou a sala nos 15 minutos finais, acho que a maioria dos espectadores estava assim também.

Esse é o primeiro filme totalmente original do diretor desde sua estreia e já é considerado por muitos o ponto alto de sua carreira, pontuada pelas direções bem sucedidas de Batman (entre elas O Cavaleiro das Trevas, que deu a Heath Ledger o Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante). Certamente A Origem já tem garantidas algumas indicações ao Oscar, e se ganhar o de Melhor Roteiro Original terá sido no mínimo merecido. Aguardemos; ainda faltam seis meses.

Antes de assistir, li bastante coisa sobre o filme. E ao ver que na tradução para o português o filme se chamaria A Origem, receei que fosse mais um desses títulos mal traduzidos que vemos aos montes por aí. É bom poder concluir que não. Christopher Nolan mostrou que "inserir" uma ideia, "o parasita mais resistente" na mente de alguém pode mesmo ser a origem do caos.

Must see.

Próximas sessões:
Destinos Ligados (Mother and Child), dirigido por Rodrigo García, filho do Gabriel García Márquez e produzido por Alejandro Gonzalez Iñarritu – alguém mais achou a tradução em português mais Iñarritu impossível?

5x Favela – aplaudido em Cannes e premiado em Paulínia, Renata de Almeida Magalhães e Cacá Diegues produzem e apresentam 5 jovens cineastas da favela, que foram capacitados para retratar suas realidades e levá-las às telas. Só o projeto já vale!

Tropa de Elite 2 – tem gente dizendo que o sucesso de Capitão Nascimento & Cia se deve em grande parte à pirataria da qual o longa foi vítima. Duvido muito. Expectativas em órbita pra essa continuação, esperando não me decepcionar... A conferir.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Flip à distância


Não vai ser dessa vez que irei à Flip. Queria muuuuito a essa hora estar rumando à linda Paraty, mas vou ter que me contentar em ficar aqui de olho, à distância. Mas as coisas seriam piores se não pudéssemos acompanhar tudo desfrutando dessa beleza que é a internet. Não me canso de dar graças à tecnologia! E me assusto quando paro pra pensar no que mais ela ainda fará por nós.

Pensando em pobres mortais que, assim como eu, estão impossibilitados de vivenciar essa grande festa literária, decidi fazer um post reunindo as fontes que vão trazê-la a mim - já que não posso ir até ela! :) Lógico que nada se compara a estar lá, participar e ver tudo in loco (já comecei meu planejamento para o ano que vem).

Então, para quem também quiser acompanhar a 8ª Festa Literária Internacional de Paraty, minhas sugestões:

1) O site da Flip, obviamente: http://www.flip.org.br
Além de todas as informações oficiais e da cobertura completa, o site oficial traz na seção Mídias Sociais o blog, os perfis da Festa no Facebook e no Twitter (@flip_se), além do canal no Youtube e podcasts com tudo sobre o que vai rolar nos 5 dias de evento.

2) A comunidade da Bravo! no NING, em que a revista convida todo mundo a ser repórter e contribuir com sua própria cobertura da Flip! Promete ser um ambiente colaborativo muito legal, uma ótima oportunidade pra quem quer produzir conteúdo sobre a Festa, trocar impressões, encontrar pessoas. Cadastre-se em http://bravonaflip.ning.com/

O blog Bravices! também tá com um conteúdo muito bacana, com muita coisa legal sobre as 7 edições anteriores e curiosidades sobre a de 2010. Vale um confere: http://bravonline.abril.com.br/blogs/bravices/

3) O Estadão na Flip: http://blogs.estadao.com.br/flip/
Além do blog especial, o jornal também vai fazer a cobertura via twitter (@cultura_estadao)

Transmissão em live streaming:
Ano passado assisti várias mesas da Festa pelo próprio site do evento, inclusive a concorridíssima com o mestre Gay Talese (forçando a barra, quase uma tenda do telão no conforto da minha casa). Se não me engano, desde 2008 o evento é exibido ao vivo via internet e nesta edição não vai ser diferente. Ótimo pra nós!

Além do site da Flip, parece que o G1 também vai transmitir todas as mesas do evento com áudio original E tradução simultânea quando necessário. A confirmar! Assim que souber volto aqui e edito o post! A cobertura pelo blog tá confirmada: http://g1.globo.com/pop-arte/flip/

Divirtam-se!


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Para rasgar e ler

Inaugurando o mês de agosto e entrando no clima do grande acontecimento cultural da semana, a 8ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, deixo pra vocês uma coisa linda que a revista TPM mostrou e eu A-M-E-I.


Um livro de poesias que, para ser lido, precisa ser rasgado. A ideia da criadora, Helen Friel, é ir além na interação do leitor com o livro e colocá-lo diante de um conflito: conservar ou ler? Legal pra pensar a relação fetichista, o apego que muita gente tem com os livros. E mexer com a curiosidade, né? Em algumas partes da obra há trechos escondidos, que devem ser encontrados a partir de instruções.



Ler, pra mim, já é um ritual em si. Rasgar páginas torna isso ainda mais concreto. E poético! Achei genial!

Sobre a Flip: tô programando uns posts especiais sobre o evento, que começa no dia 4, quarta-feira. Portanto, continuem por aqui!


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Livros?

Há quanto tempo você não lê um livro que realmente gostaria?

Ultimamente tenho lido como há tempos não conseguia. Livros que eu escolhi, porque realmente queria lê-los e não porque deveria. Que há algum tempo queria ler e simplesmente não tinha tempo. E vi que tinha esquecido de como eu gosto de ler, de como a leitura é uma válvula de escape pra gente se desligar do mundo, pra ver outras realidades, pra expandir os horizontes. Aquelas velhas e batidas razões que os adultos nos davam para criarmos o hábito, nas quais sempre acreditei.

Desde criança sempre li bastante. Tive a sorte de crescer em um ambiente, tanto na escola quanto em casa, de estímulo ao gosto pelos livros. Mas confesso que, com o passar dos anos, a chegada do vestibular e seus milhares de conteúdos obrigatórios, a literatura ficou um pouco de lado - exceto a brasileira, claro, cujos clássicos obviamente se incluíam nos conteúdos programáticos dos exames.

Ao longo da faculdade, mal conseguia dar conta da carga pesada de leituras. Pilhas de textos, fichamentos e resenhas. Não que não fossem interessantes, muito pelo contrário; apenas não substituíam o prazer de ler com o simples propósito de entreter. Títulos que não diziam respeito aos estudos, ficção e poesias só mesmo nas férias.

Nessa, digamos assim, entressafra profissional, em que as coisas estão mais calmas e tenho tido mais tempo livre, tenho procurado preencher lacunas desses 4 anos de desleixo. Sim, porque cheguei à conclusão de que, se não li mais, foi por falta de organização. Como quase tudo na vida, é uma questão de planejamento, vamos admitir. E, depois desse primeiro passo, colocar a biblioteca em dia.

Minha lista é enorme, e sei que ela vai crescer indefinidamente, sem nunca chegar ao fim. E a sua?


*


Falando em biblioteca, gostaria de dividir com vocês que o meu sonho de consumo do momento é um Kindle. Sim, relutei durante meses, e como todo mundo achei por algum tempo que e-books eram uma loucura, que eu jamais leria coisa alguma em um aparelho eletrônico que imita livros porque nunca seria igual e que os livros de papel nunca iriam acabar.

Foi um processo gradual: primeiro veio o choque; depois, a conclusão de que os benefícios de um leitor digital como o da Amazon realmente seriam definitivos para o sucesso dos e-readers: nada mal ter na bolsa centenas de livros em um só, à distância de alguns cliques, leve como uma revista. Meses depois, eu já estava apostando com meu namorado quanto tempo levaria para que os livros digitais substituíssem os volumes de papel (é bom deixar claro que não digo que o livro vá acabar definitivamente. Afinal, quem sabe?).

O fato é que há 10 dias a Amazon divulgou que, pela primeira vez, a venda de e-books superou o número de livros com capa dura vendidos online. Na semana passada, o Kindle estava esgotado no site de vendas, o que gerou rumores de que um novo modelo poderia estar por vir. Batata!, diria Nelson Rodrigues: eis que hoje um comunicado de Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon, anunciava a terceira geração do Kindle. Design 20% menor, mas com a mesma área de leitura, e suas já atraentes funções aprimoradas. Ah, e uma versão mais barata de aparelhos, que não usam 3G, por $139. Restam dúvidas?

Ok, por maior que seja o meu revés tecnológico (tenho especial talento para danificar todos meus pertences eletrônicos), chegou a hora de admitir que eu também quero um Kindle.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quem me ensinou sobre folhetins

Folhetins. Meus queridos e fascinantes romances-folhetins! Eu sabia que um dia esse assunto viria para o blog, só não imaginava que seria tão cedo. Um acontecimento no início dessa semana só fez com que eu antecipasse o post (que já prevejo não ser o único sobre o tema).

Há pouco mais de um ano defendi meu projeto final da faculdade. O título, "Jornalismo e dramaticidade: a folhetinização dos fatos nos produtos jornalísticos". Em palavras não tão acadêmicas, a influência de características do folhetim - variação de romance surgida na França do século XIX – no noticiário atual. Por iniciativa de Émile de Girardin, em 1836 romances começaram a ser publicados em pedaços diariamente no jornal, ocupando o rodapé das páginas, denominado feuilleton. Surgiu assim o feuilleton-roman, ou o romance-folhetim.

Numa época em que o romance é o gênero literário dominante, o folhetim aparece como uma nova concepção de lançamento de ficção. Antes preenchido pelas chamadas variedades, o espaço virou lugar de publicação das histórias romanceadas picotadas, distribuídas diariamente ao longo das edições. A iniciativa deu origem a um fiel público consumidor, que incorporou o hábito de ler o jornal incitado pelos romances publicados, fatiados, e esperar ansiosamente pelo desenrolar das tramas, pelos novos acontecimentos que viriam no número seguinte. Quase dois séculos depois, alguma semelhança com as novelas, ops, coberturas midiáticas do caso X ou Y, cujos capítulos acompanhamos diariamente?

Enfim, mesmo depois de estudá-lo exaustivamente continuo amando o tema e discutiria aqui laudas e laudas sobre ele. Mas sejamos objetivos. O fato é que para escrever com propriedade sobre o fenômeno mergulhei de cabeça naquele universo e me apaixonei. Tive o prazer de dividir meus dias com a pesquisa incrível da ensaísta Marlyse Meyer acerca do tema. Seu livro “Folhetim, uma história” (Companhia das Letras, 1996), vencedor do Prêmio Jabuti de 1997, é a bíblia do assunto que escolhi estudar, obra de referência da minha monografia. Virou livro de cabeceira por 4 meses e entrou pra minha lista de textos inesquecíveis. Fruto de uma pesquisa gigantesca, é fundamental para compreender como aquele feuilleton-roman francês do século XIX contribuiu para a consolidação do jornal como veículo na França e originou gêneros que caracterizam nossa cultura popular, como os romances literários, o rádioteatro, a telenovela.

Marlyse faleceu na última segunda-feira, dia 19 de julho, aos 86 anos. Achei oportuno falar desse trabalho e de certa maneira homenagear essa estudiosa fantástica, por sua contribuição e importância para a crítica e a produção literária brasileira. O post de adeus à escritora no blog da Companhia das Letras traz um trecho em que o crítico literário Davi Arrigucci Jr explica perfeitamente porque o texto de Marlyse Meyer me marcou tanto:

“[...] é uma leitora capaz de contar o que leu. Narra e dramatiza suas leituras. Ao narrar, revela a consciência do processo e de seus percalços, explicitando os bastidores de seu modo de ler. Esse teatro da leitura recorrente em seus textos é um dos encantos de seu método de exposição. Aproxima-nos, além disso, da matéria, por mais espinhosa que seja, envolvendo-nos, sem nenhuma empáfia, como parceiros iguais, no ato plenamente humano de comunicação da palavra”.*


Bom final de semana.


*Trecho do ensaio “A imaginação andarilha”, dedicado a Marlyse Meyer e presente no livro “O guardador de segredos” (Companhia das Letras, 2010).

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Estreia

Começa aqui o blog de uma jornalista recém-formada, ainda tentando se encontrar entre tantas possibilidades oferecidas pelo campo da Comunicação. De uma coisa, no entanto, tem certeza: atriz e apaixonada pelas artes, vê no universo cultural o seu lugar.

Ambos ofícios - Teatro e Jornalismo - tem sua base na arte da observação. São formas de expressão que, mesmo servindo a finalidades distintas, compartilham o uso de personagens, a descrição de ações, o realce de detalhes. E assim nos proporcionam diferentes olhares e abordagens para uma mesma história.

É este um dos meus hobbies favoritos: olhar, apreciar, observar. Aproveitar o dom que temos de ver as coisas, ora com nossos próprios olhos, ora sob a visão de alguém - um escritor, um encenador, uma atriz, um repórter.

Neste espaço, quero dividir com você a minha visão sobre algumas paixões: teatro, cinema, literatura; idiomas, lugares, culturas; e é claro, comunicação, jornalismo e novas mídias. Sempre buscando compartilhar Tudo o que eu queria ver se estivesse lendo este blog.

Enjoy!