Felizes são os escritores. Os ficcionistas, eu quero dizer. Sim, porque eles podem fazer o que quiserem e seus personagens jamais irão reclamar. É sobre isso que venho pensando nos últimos dias: como o indivíduo retratado em um texto pode intervir no trabalho de quem escreve. No caso, o jornalista.
O repórter faz perguntas, o interlocutor responde como lhe convém. Seleciona o que vai dizer de acordo com o que interessa a ele que seja publicado. Quem escreve tem o compromisso de ser fiel àquelas respostas, ou ao menos às ideias gerais nelas contidas. Texto publicado: que atire a primeira pedra o jornalista que nunca teve uma personagem que se rebelou quando viu o produto final.
Por mais cauteloso e isento que tente ser, o criador corre o risco de desagradar a criatura (que não foi criada por ele, diga-se de passagem). Fico imaginando como deve ser difícil o trabalho de um biógrafo, principalmente de obras autorizadas, quando na maioria das vezes toda sua produção está sujeita à aprovação do seu "objeto" de estudo. Não bastasse o gigantesco processo de pesquisa, ele tem diante de si uma vida a retratar que é, ao mesmo tempo, um filtro. Uma peneira que pode pegar justamente os caroços que enriquecem uma história.
E os dramaturgos? Estes sim vivem situação curiosa: criam a personagem da maneira que entendem ser melhor para a trama. Aí vem o ator, todo metido à besta, e transforma o X em Y. Às vezes, o resultado final é melhor que a ideia inicial. Em outras, é catastrófico. Problemas no processo podem até levar a consequências "mais graves". Pra facilitar, o criador mata a criatura. Ou inventa uma viagem, um final feliz antecipado e, de quebra, se livra do intérprete problemático. E o jornalista? Faz o quê?
Bons jornalistas, tenho aprendido, são aqueles que não se permitem pautar pelo entrevistado. Conseguem extrair não o que ele deseja dizer, mas o que realmente importa para aquela matéria. O que motivou a escolha daquela pauta, em meio a tantas outras. Fiel às respostas, ciente do que escreve - e, nunca é demais, seguro graças a belas provas concretas. O gravador pode ser o melhor amigo.
Construir personagens é uma delícia. Imaginar como seria alguém, buscar sentir o que esse alguém sentiria, determinar e executar suas ações... (Stanislavski explica melhor que eu). Mas tão desafiante quanto é trazer quem já existe para o papel.
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Uma pessoa que detesta coisas desatualizadas e "abandona" seu blog à própria sorte durante um mês merece o quê?R: Sentir-se mal e voltar ao bloco de notas quando constata que estava morrendo de saudades de escrever aqui. E enfiar na cabeça que falta de tempo não pode virar desculpa para não postar. Dealt!*
*Que drama, mas ok. Tem a ver com nossos temas aqui.
Adorei o texto. Lou!!
ResponderExcluirSuper-perspicaz o título!Td a ver!
Não sabia do seu blog...
mas se o seu tá parada há um mês, o que fazer com o meu que está parado há 3?rsrs
bjssss
Que isso não se repita! Huuummm!!! ¬¬
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